A Associação Brasileira de Rádios
Comunitárias – Abraço Brasil, foi uma das entidades que se somou à Carta pela
Democracia. O manifesto foi lançado no último dia 27 e conta com o apoio de
milhares de organizações da sociedade civil, entre elas a de juristas,
artistas, economistas, ex-ministros do Supremo Tribunal Federal, empresários,
além de pessoas físicas.
Segundo o presidente da entidade que
representa as rádios comunitárias no país, Geremias dos Santos, é
imprescindível que a mídia, sobretudo as emissoras com este caráter, se somem a
esta iniciativa , cujo objetivo central é a defesa do Estado Democrático de Direito.
“Não podemos ter dúvida nesta hora. Se estivéssemos sob uma ditadura, nós
sequer existiríamos. Nossos microfones seriam silenciados. O movimento de
radiodifusão comunitária só existe graças à democracia”, considerou.
Leia abaixo a Integra da Carta
Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de
fundação dos cursos jurídicos no país, o professor Goffredo da Silva Telles
Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu
a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo
militar e o estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o
restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional
Constituinte.
A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A
Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas
instituições, restabelecendo o estado democrático de direito com a prevalência
do respeito aos direitos fundamentais.
Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos
independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela
observância do pacto maior, a Constituição Federal.
Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º
aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate
político sobre os projetos para país sempre foi democrático, cabendo a decisão
final à soberania popular.
A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição “Todo poder emana do
povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos
termos desta Constituição”.
Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no
mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das
urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se
seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.
Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos
em país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos
essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a
caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma
sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros
desafios.
Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero
e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.
Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha
eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais
e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa
entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor
proposta para os rumos do país nos próximos anos.
Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo
para a normalidade democrática, risco às instituições da República e
insinuações de desacato ao resultado das eleições.
Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo
eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela
sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores
da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem
constitucional.
Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular
democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a
confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não
terão.
Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da
democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito
maior, a defesa da ordem democrática.
Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e
reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente
da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos as brasileiras e
brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao
resultado das eleições.
No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e
tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade
brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.
Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:
Estado Democrático de Direito Sempre!!!!"